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Um perfil das cientistas em Campinas
Pela primeira vez na história da Ciência, no início do mês de novembro de 2019, uma mulher foi escolhida para exercer dois mandatos consecutivos de Diretora Geral da Organização Européia de Pesquisa Nuclear (CERN, na sigla em inglês). A física italiana Fabiola Gianotti, que também é a primeira mulher a conquistar o cargo no laboratório suíço, declarou ao portal Physics Today sobre este fato: “a ciência pode exercer um papel fundamental para conectar pessoas em um mundo cada vez mais separado, porque a ciência é universal. Ela não tem passaporte, ideologia política e nem gênero”.
Apesar da visão otimista de Gianotti, a desigualdade de gênero no mundo científico, em 1918, já era denunciada com afinco no Brasil, por Berta Lutz, cientista e bióloga feminista. Esse mesmo cenário ainda está presente hoje, quando analisamos os dados de gênero recentes dos centros de pesquisa brasileiros. Por motivos relacionados às dificuldades diárias do “ser mulher” - como a maternidade, o machismo, a jornada tripla de trabalho, por exemplo - as mulheres cientistas ainda enfrentam os “labirintos de cristais” ou “tetos de vidro”, representando as barreiras invisíveis que as impedem de subirem nas carreiras científicas.
De acordo com uma pesquisa sobre Gênero e Ciência feita por membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC), ao avaliar bolsistas de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) entre 2001 e 2011, nas áreas de Física e Medicina, na Física apenas 10% dos bolsistas são mulheres (no nível 2, o mais básico), e à medida que se sobe na carreira essa taxa diminui ainda mais. Outro dado importante acerca do número de concessão de bolsas pelo CNPq é que na categoria de Produtividade em Pesquisa, a mais alta categoria de apoio do CNPq a pesquisadores no país, a representatividade feminina era de apenas 35,5%, em 2015.
A parcela diminui, principalmente, em níveis mais altos da hierarquia científica – apenas 27 mulheres haviam chegado à modalidade de Pesquisador Sênior, de um total de 112. A categoria é reservada aos pesquisadores que se destacam entre seus pares como líderes e paradigmas nas suas áreas de atuação e permanecem por pelo menos 15 anos nos níveis 1A ou 1B. No nível 1A, o mais alto do CNPq, em 2015, as mulheres representavam uma em cada quatro pesquisadores. Essa desigualdade numérica, principalmente relacionada à ascensão na carreira, é chamada na pesquisa de “efeito tesoura”, já que as mulheres passam a ocupar menos cargos nas posições de hierarquia mais altas.
Para Márcia Barbosa, física e uma das membros da ABC que ajudou a realizar a pesquisa, é importante valorizar iniciativas que incentivem as mulheres às carreiras científicas como, por exemplo, os prêmios destinados exclusivamente a elas. A estudiosa defende que essas estratégias seriam como uma espécie de antídoto à “construção social que temos, desde pequenos, de ver apenas homens ocupando posições relacionadas ao poder, inteligência e visibilidade.” A pesquisadora também lembra de outro aspecto importante: que para o avanço da ciência é essencial a diversidade de pontos de vista e opiniões.
“Não há uma estatística indicando que as mulheres estejam mais presentes na pesquisa básica ou aplicada, mas sim a constatação de maior incidência da presença feminina nos trabalhos em grupo”, diz Barbosa. Essa incidência, segundo ela, em modelos de trabalho com mais pessoas, é favorável para driblar as questões que envolvem o universo feminino e, em muitos casos, as afastam da carreira, como a maternidade.
Um estudo publicado pela revista Science, em 2017, confirmou que os estereótipos de gênero sobre habilidade intelectual surgem cedo e influenciam os interesses das crianças. Outro estudo de caso, publicado pelo Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em 2012, mostrou que, mesmo com currículos idênticos, os dos homens eram mais bem avaliados do que os das mulheres.
Luciana Romani, pesquisadora da Embrapa Informática Agropecuária e hoje supervisora em Inovação e Negócios, graduada em Computação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), cresceu em meio a tecnologia e educação, com muitos engenheiros e professores em sua família, que sempre a influenciaram e incentivaram a aflorar seu lado curioso e inventor. Tornar-se cientista, portanto, era uma meta desde criança.
“Na infância isso foi demonstrado pelas minhas atitudes. Meus pais, como são ligados à área de educação, sempre estimularam esses tipos de práticas, deram muitos feedbacks de todos os questionamentos que eu fazia. Inclusive, eu gostava muito de aviões, de trens e eu e meus primos fazíamos maquetes, construíamos aviões”, ela se recorda. Essas experiências levaram à escolha de Engenharia Aeronáutica como primeira opção do vestibular.
Mas a academia não estava preparada para esse tipo de desejo vindo de mulheres. Luciana se deparou com esse problema quando foi fazer a inscrição para prestar a prova de ingresso da graduação. Pela primeira vez, ouviu que não poderia estudar algo pelo fato de ser mulher. Naquela época, o curso de Engenharia Aeronáutica, no Brasil, só existia no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), instituição de ensino superior público ligada à Força Aérea Brasileira. “Os estudantes do ITA eram residentes lá. O alojamento que existia era só para homens. Eu fiquei, lógico, decepcionada pelo fato de ter ainda essa restrição, de que só pelo fato de ser mulher eu não pude nem me inscrever”, relatou a pesquisadora.
Ainda segundo a publicação da ABC, são consideradas áreas de atuação em pesquisa: as Ciências Matemáticas, as Ciências Físicas, as Ciências Químicas, as Ciências da Terra, as Ciências Biológicas, as Ciências Biomédicas, as Ciências da Saúde, as Ciências Agrárias, as Ciências da Engenharia e as Ciências Sociais. O levantamento de dados de pesquisadores (do Mestrado e Doutorado) registrados na plataforma Lattes aponta que, nas Engenharias e maior parte das Ciências Exatas, as mulheres ainda são a minoria. Além disso, a quantidade de mulheres bolsistas pelo CNPq nessas duas áreas também representa a menor parcela.
Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), as mulheres são maioria nos cursos de Pós-Graduação em seis das nove áreas de atuação, segundo levantamento feito por Germana Barata, bióloga, historiadora e pesquisadora de divulgação científica no Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor). Porém, ela afirma que, apesar do número de mestrandas e doutorandas estar crescendo, ainda são homens que ocupam os cargos de liderança na Ciência. “Quando observamos as conferências de ciência, na quais estão as ‘autoridades’ da área, vemos em sua maioria convidados homens. No jornalismo científico também são sempre eles as fontes. E quando observamos questões de raça e região a discussão fica ainda maior."
Silvia Massruhá, chefe geral da Embrapa Informática Agropecuária, graduada em Análise de Sistemas pela PUC-Campinas, contou que para chegar ao cargo de liderança que ocupa hoje teve que lidar com o fato de ser sempre minoria, conviver com muitos olhares tortos e pré-julgamentos baseados em estereótipos machistas. “Muitos colegas e chefes falavam que eu não daria conta de fazer a pesquisa e ter família, porque na pesquisa você precisa trabalhar até tarde, às vezes viajar. Eu ouvia isso, mas sentia que poderia conciliar as duas coisas”, ela relata. Apesar do desencorajamento, a autoconfiança e a realização de um trabalho bem feito a guiaram até aqui.
Destaque regional
A produção científica no Brasil se concentra na região Sudeste, principalmente no estado de São Paulo, como sugere o Relatório da Clarivate Analytics Web of Science para a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que avaliou o cenário nacional entre 2011 e 2016. São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais ocupam os três primeiros lugares no ranking elaborado pela pesquisa, que aponta a Universidade Estadual de Campinas como a terceira colocada entre as universidades que mais produzem ciência no país. O estudo da ABC também indica os mesmos resultados.
Além disso, Campinas conta com uma concentração de centros de pesquisa e empresas de tecnologia, tornando-se um destino atrativo para os pesquisadores de todas as regiões. Como é o caso de Olivia Del-Puppo, engenheira do petróleo graduada pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), na Paraíba. A pesquisadora, que hoje é aluna do Mestrado da Unicamp, disse que a universidade tem uma das melhores pesquisas em Planejamento de Sistemas Energéticos e, por esse motivo, decidiu cursar o a pós-graduação em Campinas. “A UFCG é muito renomada nesta área, porém a Unicamp tinha muito mais recursos para oferecer. Quando surgiu a oportunidade de vir para cá, não pensei duas vezes”, declarou a engenheira.
Olivia também falou sobre a realidade das universidades da Paraíba: “As demais universidades estão bem sucateadas, por isso muitos pesquisadores com tanto potencial acabam vindo para o Sudeste, lá não tem tanto investimento na pesquisa. Seria incrível poder realizar pesquisas e desenvolver tecnologias específicas para a minha região, mas os cortes e a falta de recursos tornam isso quase impossível, infelizmente”.
Elisa Guida, graduada em Engenharia Ambiental pela Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) em Minas Gerais e Mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos conta que escolheu vir estudar no Sudeste pelas universidades aqui serem mais renomadas e terem mais recursos, ainda completou comentando que nas universidades do seu estado, o Amapá, não tinham o curso de graduação que queria, o que também foi um fator para ela migrar. “É nítido que o Norte e o Nordeste recebem menor atenção econômica e consequentemente, educacional. Eu penso que essa discrepância é um problema muito sério do nosso sistema educacional, pois uma vez que o recurso se concentra aqui, as pesquisas também acabam tendo enfoque nesta região”, desabafa Elisa.
Projeto Sirius
Antes mesmo da construção do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em 1986, já se falava em um acelerador de partículas brasileiro desde 1981. A concretização deste projeto faz com que hoje, Campinas seja a única cidade em território nacional a abrigar duas fontes de Luz Síncrotron. A primeira delas foi o UVX, uma máquina de 2ª geração. Ele começou a ser construído em meados da década de 1980, durante o período de hiperinflação da economia brasileira.
Segundo Liu Lin, física, atual Líder do Grupo de Física de Aceleradores do LNLS, o projeto gerou especulações na comunidade científica naquela época, devido à grande quantia de investimento. A cientista foi a única mulher e também mais jovem de um grupo com quatro pessoas enviadas a Stanford, nos Estados Unidos, para adquirirem mais conhecimentos técnicos a respeito de como se construir um acelerador.
Lin se recorda que até o final da década de 1980, se fazia ciência no Brasil apenas em laboratórios nas universidades, com experimentos de grupos menores. Nesse cenário, o projeto do síncrotron mudou a concepção do fazer científico. Os Ministério da Ciência e Tecnologia e o Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tinham alguns objetivos com a construção de um Laboratório Nacional. Como o de ampliar e aprofundar as pesquisas de física experimental, além de desafiar engenheiros e outros profissionais a desenvolverem tecnologias novas que trariam independência, amadurecimento e inovação para a ciência no país.
Márcia Barbosa, embora seja física teórica, sempre participou e acompanhou discussões em diversos eventos de sua área. Ela relata que quando era membro internacional do conselho da American Physical Society, teve a experiência de ver o reconhecimento e relevância do UVX no exterior. “Perguntei aos americanos que grande máquina [científica] o Brasil deveria construir. A resposta foi unânime: vocês já tem uma e é o UVX”, ela diz. O ano de 2019 foi um marco na história do UVX, que chegou ao fim de sua vida útil para usuários externos. Isso porque, como já tem sido divulgado há alguns anos na mídia, o Sirius será a nova fonte de luz síncrotron de 4ª geração, a mais potente do mundo. Sua abertura à comunidade científica está prevista para ocorrer até 2021.
Como continuação da missão do LNLS, o projeto Sirius tem a mesma proposta de desenvolver a indústria nacional através de parcerias com empresas para criação de equipamentos. Débora Magalhães é engenheira física e trabalha há sete anos no Laboratório. Ela faz parte do Grupo de Detectores, responsável por construir, pela primeira vez no Brasil, máquinas de detecção de raios X específicas para as Linhas de Luz dos aceleradores. Esses grandes aparelhos funcionam como os “olhos”, ou seja, são uma espécie de câmera fotográfica que capta as imagens das amostras dos experimentos realizados nos aceleradores, para que possam ser analisadas pelos cientistas.
Como a primeira integrante do Grupo formado em 2013, Débora, naquela época com 23 anos de idade, foi enviada ao CERN (do inglês Organização Europeia de Pesquisa Nuclear), laboratório suíço, para conhecer de perto o Large Hadron Collider, LHC (Grande Colisor de Hádrons, da sigla em inglês). Na ocasião, ela passou um mês acompanhando o trabalho do engenheiro que desenvolveu os detectores para a máquina e até hoje mantém contato com ele para resolução de problemas por aqui.
“Acho que se eu não tivesse ido lá, nós teríamos um conhecimento do nosso equipamento muito menor do que o que temos, então a minha grande função hoje é passar tudo o que consegui construir com essa parceria e divulgar para que o pessoal do meu Grupo possa estar no mesmo patamar que eu”, a cientista esclarece. De acordo com ela, apesar dos detectores estarem sendo desenvolvidos especialmente para o Sirius, ter o conhecimento dessa tecnologia no país pode ser algo importante também para outros setores da sociedade.
A importância desta tecnologia na área da saúde se mostrou particularmente evidente para Débora, pela experiência que teve com a orientadora do mestrado. A docente tem formação em física médica e amplos conhecimentos sobre detectores usados em exames de mamografia, área na qual atua. Essa parceria contribuiu de forma decisiva para a pesquisa, cujo objetivo central era entender quais os limites do detector, como ele sofre interferência das amostras que “fotografa”.
Essas interferências precisam ser levadas em conta quando se observa o experimento, para a análise de dados, já que muitas vezes pode-se observar algo que não seja de fato da amostra. Débora conta que “os pesquisadores também estão aprendendo a lidar com esse detector”, pois é preciso que estejam cientes dessas interferências quando observarem a sequência de imagens do experimento. “Vai ter que haver uma troca constante de informações, de como tratar os dados, não só entre a gente, mas até o pessoal que vai estar processando as imagens. [Eles devem estar atentos] às correções que tem que ser feitas na geometria do detector para não influenciar na imagem do pesquisador”, diz a pesquisadora.
Além disso, o funcionamento do detector precisa estar sincronizado com o dos outros aparelhos da Linha. A cientista cita o exemplo dos detectores usados para fazer tomografia, a necessidade de se “girar a amostra e ir fazendo várias projeções”, para depois tornar possível a reconstrução de uma imagem 3D, que permitirá observar o objeto de análise. Em resumo, “o detector tem que estar sincronizado com o motor que gira a amostra, porque você precisa saber em qual posição foi tirada qual imagem, para conseguir reconstruir depois.” No caso do Sirius, essa sincronia envolve a colaboração com outros Grupos de Trabalho do Laboratório, como o de Eletrônica e Software, por exemplo. “Tudo isso precisa estar muito alinhado”, diz Débora.
"Acho que se eu não tivesse ido ao CERN, nós teríamos um conhecimento do nosso equipamento muito menor do que o que temos. A minha grande função hoje é passar tudo o que consegui construir com essa parceria e divulgar para que o pessoal do meu Grupo possa estar no mesmo patamar que eu"
Débora Magalhães
Toda a logística é de fundamental importância para as pesquisas que serão realizadas no Sirius. As estações, Linhas de Luz onde ocorrerão experimentos, recebem nomes da fauna e flora brasileiras, como as primeiras seis que serão abertas: Carnaúba, Cateretê, Ema, Manacá, Ipê e Mogno. A tecnologia do acelerador permitirá que pesquisadores consigam enxergar estruturas em escala nanométrica da matéria, além de captar movimentos ultra rápidos como, por exemplo, de reações químicas ocorrendo em tempo real.
Quase todas as Linhas terão um detector construído pelo Grupo de Detectores em parceria com uma empresa campineira. “Ele não atende todas as Linhas porque o material é específico por uma faixa de energia. As faixas de frequência precisam de detectores diferentes, nosso detector não consegue atender todos os tipos ainda”, esclarece a cientista. Há possibilidade de, no futuro, conforme os investimentos em novas Linhas para o Sirius, que comporta até quarenta, diferentes detectores sejam desenvolvidos.
Ingrid Barcelos faz parte do Grupo Imbuia, uma das futuras Linhas de Luz do Sirius, dedicada à experimentos de micro e nano-espectroscopia de infravermelho. A pós-doutora em física e foi a segunda mulher a conquistar o prêmio José Leite Lopes de melhor tese de doutorado, da Sociedade Brasileira de Física. A cientista conta que os pesquisadores alocados nas Linhas têm, basicamente, quatro responsabilidades: pesquisa interna (sobre assuntos de interesse do pesquisador), manutenção para manter tudo funcionando, que envolve construção de equipamentos ou melhorias para o Sirius, e acompanhamento de pesquisas dos usuários externos.
Em sua tese premiada ela explorou, principalmente, as propriedades do grafeno, um metal muito fino e transparente, composto de apenas uma camada atômica, que é mais duro do que um diamante. É possível a criação de tecnologia à base dele, mas, de acordo com Ingrid, ainda precisa ser explorado pelos cientistas e a indústria. A pesquisadora estuda esse material tanto em nanotubos (escala nanométrica) quanto pela técnica de crescimento por CVD, que é a geralmente aplicada na indústria para fazer com que materiais “cresçam” e possam ser utilizados em produtos comercializáveis. “A Samsung usou grafeno recentemente para fazer um celular”, exemplifica.
Afastado dos outros institutos de ensino e aprendizagem da Unicamp, ali próximo ao prédio da reitoria e outras unidades administrativas, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (LabJor) ocupa apenas o terceiro andar de um dos blocos. Como parte das ofertas acadêmicas do local, este ano o curso de pós-graduação, referência no Brasil e América Latina, de Especialização em Jornalismo Científico, completa 20 anos.
Germana Barata é pesquisadora do LabJor e hoje coordenadora do latu sensu, além de historiadora e bióloga. Ela esteve presente acompanhando o desenvolvimento ao longo das últimas duas décadas, já que foi aluna da primeira turma, em 1999. A jornalista sempre gostou da ciência de modo geral, o pai é químico e isso fez parte da infância dela, levando-a pensar em uma inclinação natural para a área, característica de quem cresceu fazendo perguntas, visitando laboratórios, entre outras vivências relacionadas. Além disso, também assistia a documentários de Jacques Cousteau sobre a Amazônia e outros temas da biologia, desde cedo.“Eu acho que hoje a gente pode dizer que ele era um divulgador científico, porque sempre falou dos animais, da natureza”, ela se recorda.
Na graduação que cursou, Biologia, Germana se interessou pela área de biologia marinha e chegou a fazer uma iniciação científica. “Acho que ter esse fascínio pela ciência, por gostar, que eu sentia o desejo de compartilhar”, reflete. Ela também se lembra que antes de entrar na faculdade de Biologia escrevia muito bem, até por essa ser uma habilidade requerida para passar no vestibular da Unicamp. Porém, após os anos na graduação escrevendo com linguagem técnica, lendo artigos e fazendo relatórios, a habilidade de uma escrita mais fluida aos poucos se esvaiu.
Depois da faculdade, a então bióloga foi morar um ano e meio em Nova York. Quando voltou, decidiu que prestaria mestrado na Unicamp, porque considerava este o caminho mais natural para ela. Porém, naquela mesma época, abriu a primeira turma do curso de Especialização em Jornalismo Científico, no LabJor. “Ah, parece legal”, conta ter pensado. O curso era gratuito e coordenado pelo professor Carlos Vogt, ex-reitor e colega dos pais dela, não havia nada a perder.
Quando foi entrevistada como candidata para ingressar no latu sensu, lembra-se de ter recebido a seguinte pergunta de Vogt: “Você acha que é isso mesmo o que quer?” e a resposta foi: “Tudo o que começo, eu termino”. Ela não sabia, mas aquela decisão fez com que se apaixonasse por essa carreira no decorrer da experiência. Sobre o LabJor, diz: “é um grande laboratório, não é à toa que a gente se chama Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, porque aqui podemos errar, experimentar coisas novas e foi aqui que eu realmente aprendi a retomar o meu gosto pela escrita.”
divulgação científica
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“Você acha que é isso mesmo o que quer?” e a resposta foi: “Tudo o que começo, eu termino”. Ela não sabia, mas aquela decisão fez com que se apaixonasse por essa carreira no decorrer da experiência. Sobre o LabJor, diz: “é um grande laboratório, não é à toa que a gente se chama Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo, porque aqui podemos errar, experimentar coisas novas e foi aqui que eu realmente aprendi a retomar o meu gosto pela escrita.”
Germana Barata
Com relação à área, a jornalista afirma que nota a diferença na divulgação científica nacional com o passar dessas duas décadas. Na visão dela, os produtos de divulgação científica são fundamentais para dialogar com a sociedade. “Nós estamos em uma das maiores universidades da América Latina, de grande relevância na produção científica do país. Além disso, é uma universidade pública, financiada com recursos da população. O momento que estamos vivendo atualmente mostra que a sociedade não só têm cobrado por uma maior abertura da universidade, mas estamos sofrendo um ataque muito profundo. Então, percebemos que todo o esforço que temos feito ainda não é suficiente. A gente tem que mostrar cada vez mais que a divulgação científica é estratégica para uma universidade”, defende.
O jornalismo científico é uma das modalidades da divulgação científica, que tem por objetivo comunicar a respeito das descobertas da ciência a um público amplo e que não tenha necessariamente conhecimentos técnicos sobre os assuntos. O principal compromisso dessa modalidade é com a formação do cidadão, ao informá-lo sobre temas que o ajudem a compreender melhor o mundo interior e exterior.
A jornalista acredita que a divulgação não deve ser uma atividade feita apenas de vez em quando, mas sim prioritária para mostrar à população mais da produção científica acadêmica. “Porque o que é feito pela universidade não é para ela mesma, mas sim pensando na sociedade. Isso vai desde a pesquisa básica, que talvez hoje não tenha a princípio, um objetivo claro de aplicabilidade, porém que daqui a dez anos ou mais de décadas, possa ser que mostre o seu valor”, diz.
Com relação à experiência com divulgação científica, Débora Magalhães afirma que a viagem ao CERN em 2013 não foi somente um divisor de águas em questão de aprendizados técnicos. A experiência também fez com que ela desenvolvesse habilidades de comunicação, de passar conhecimentos, tanto para os colegas quanto para o público externo, já que ela ficou responsável por trazer essa bagagem ao atual projeto. “A gente tem uma escola de síncrotron anual, que traz alunos de mestrado e doutorado de várias partes do Brasil para entenderem o que a gente faz, saber melhor o que eles podem exigir como usuários [do Laboratório], o que é possível de fazer ali e como isso seria um avanço para a pesquisa deles. E geralmente quem divulga os detectores por lá sou eu”, ela conta.
Depois da viagem ao CERN, Débora Magalhães foi se aprimorando para se comunicar cada vez melhor e divulgar o trabalho com os detectores produzidos para o Sirius
Ingrid Barcelos, embora hoje atue como pesquisadora no Sirius, foi professora durante dez anos. Na verdade, seu interesse por uma carreira começou com a indecisão sobre ser professora de física ou história. “Na pressa de fazer inscrição para o vestibular, minha mãe fez com que eu escolhesse física”, ela conta. A cientista deu aulas particulares, em cursinhos e faculdades. O contato com divulgação científica ocorreu pela primeira vez durante a licenciatura. Ela participava de um grupo de iniciação científica que promovia oficinas de nas escolas em que os alunos poderiam criar novas invenções científicas.
Atualmente longe das salas de aula, mas devido às experiências do passado, ela costuma ser a representante em congressos e eventos abertos ao público no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Um reconhecido evento já com quatro edições é o “Ciência Aberta”, que ocorre tipicamente no final do primeiro semestre.
Ingrid vê a divulgação científica como de grande importância. “Para mim, isso faz parte de um exercício diário, por que como poderia saber se estou fazendo algo inédito sem que soubesse o que outros cientistas estão pesquisando ao redor do mundo?”, diz. Em outro sentido, para ela ainda existe um “buraco muito grande” entre a produção científica “e o que as pessoas têm acesso”. Acredita que são essenciais os profissionais de comunicação responsáveis pela mediação para tornar esses conhecimentos mais acessíveis, porque é necessário, na opinião dela, “polir o discurso”, para que as pessoas entendam com mais clareza a importância e utilidade da ciência.
Germana explica que divulgação científica estar nas mãos de muitos jornalistas nos dias atuais é um grande avanço, e relaciona isso a fatos históricos. “O jornalismo científico começou a ser feito por cientistas para dialogar com a sociedade, mas com esses profissionais controlando como essa informação chegava às pessoas, a gente tinha quase sempre um jornalismo muito positivo em relação à imagem da ciência.
De certa forma, é quase como uma assessoria de imprensa, dizer que a ciência tem apenas o lado bom”, ela introduz. Mas a virada nesse cenário, segundo a pesquisadora, ocorreu por volta de meados do século passado quando um evento marcante levou ao amadurecimento da mentalidade na divulgação científica. “Na Segunda Guerra Mundial, quando se tem a explosão das bombas atômicas em Nagasaki e Hiroshima, em 1945, o mundo viu que um grande projeto de ciência, financiado pelo governo americano, o Manhattan, para desenvolvimento de armas nucleares, também pode ter impactos muito negativos na humanidade”, completa.
Também historicamente o jornalismo foi produzido, durante muito tempo, apenas por homens. Até mesmo publicações destinadas às mulheres, como revistas de moda, educação ou culinária, eram escritas por pessoas do sexo masculino. Nos dias atuais, vivemos um contexto diferente e Germana, assim como outras mulheres jornalistas, escrevem sobre ciência. A pesquisadora afirma que jornalistas têm um papel importante para tornar pública a representatividade de gênero na ciência. De acordo com ela, o jornalismo traz referências e cada matéria tem a voz de um especialista importante que será um guia para o leitor. O fato de haver mulheres ocupando essa posição já é um incentivo para busca da carreira. “Isso serve tanto para os pais, quanto para as crianças. Os casos de pessoas de baixa-renda que conseguiram ter sucesso no meio científico também são importantes, assim como raça, cor e diferentes regiões”, ela argumenta.
De acordo com a pesquisadora, atualmente, no YouTube, a divulgação é feita majoritariamente por homens, enquanto que no Instagram, Facebook e Twitter, por mulheres. “É interessante porque no vídeo, quando tem o engajamento do público, as mulheres são absolutamente massacradas nos comentários. Isso ocorre, seja com algum comentário grosseiro sobre a aparência, como chamar de 'gostosona', até ir bem contra o que está sendo dito, como acusar de não ter credibilidade para saber dar informações, até xingamentos como ‘estúpida’, daí para baixo... Essas reações muito violentas contra mulheres as afastam dessa exposição no vídeo, diferente de um texto”, explica.
Trata-se, segundo Germana, de um pressuposto enraizado ver mais homens falando sobre ciência. “É muito comum olharmos para uma cobertura de ciência muito masculina. Ao falar sobre clima, vemos o climatologista, sobre biologia, o biólogo. Até mesmo em áreas que são mais femininas, em geral as fontes [de informação] são masculinas”, diz. Este comportamento também se deve à estatística de maior número de homens ocupando cargos de liderança dentro da ciência. “Nesse sentido, isso faz parte da minha prática não só como jornalista, mas como professora de jornalismo, de fazer com que os alunos se atentem para os próprios comportamentos”, completa a pesquisadora a respeito de seu trabalho LabJor, onde dá aulas e tenta fazer com que seus alunos reflitam mais sobre a busca por mulheres cientistas.
A jornalista também levanta a questão em relação à organização de eventos científicos, como exemplos de divulgação científica. Ela comenta sobre a recente reportagem da revista Nature que cria o termo “manferences”, para se referir às conferências em que a maioria dos palestrantes, de exposição dos trabalhos e debates, são homens. Com destaque para o alto índice de mesas de abertura compostas por homens brancos acima dos 50 anos.
Este outro viés da divulgação científica pode ser visto de forma mais crítica, de acordo com Germana, abrindo os olhos para a questão da representatividade. “Quando eu e uma colega organizamos um evento científico, nós como organizadoras nos preocupamos em ter um equilíbrio na questão de gênero e também em relação à representatividade de regiões do mundo, não chamamos só europeus e americanos. Procuramos por pessoas da África, Ásia e da América Latina também”, ela relata. A pesquisadora acredita que com esforço e preocupação é sempre possível achar pessoas incríveis neste contexto de diversidade, com visões capazes de explorar outras perspectivas.
Nova geração
A pesquisa científica tem como propósito aprofundar a compreensão do funcionamento das coisas, resolver problemas, desenvolver tecnologias, entre muitas outras funções. “Tem muita pesquisa, principalmente pesquisa básica, que as pessoas não entendem muito diretamente a aplicação, mas que são extremamente necessárias para ver a pesquisa aplicada”, afirma Débora Magalhães, que nota a grande quantidade de pesquisas básicas feitas por usuários do LNLS. Ela reforça a importância das pesquisas básica para o desenvolvimento da ciência brasileira, já que elas são os pilares para a evolução de mais pesquisas aplicadas e, consequentemente, relevantes para o desenvolvimento do país.
Juliana Yassitepe, Pesquisadora da Embrapa Informática Agropecuária, faz parte deste grande grupo de pesquisadores de estudos aplicados. Formada em Engenharia Agrônoma, ela realiza uma pesquisa em conjunto com a Embrapa e a Unicamp, sobre a produção de alimentos.
A pesquisadora conta que eles desenvolvem plantas transgênicas capazes de suportar condições extremas e assim aprimorar a agricultura com o maior sucesso em quantidade e qualidade do cultivo e produção de alimentos. “O que me motiva todos os dias a fazer ciência é saber que estou fazendo um trabalho importante que pode ajudar o mundo”, diz Juliana, ao contar sobre a relevância desta pesquisa no país, já que o Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo.
“Foi muito difícil conseguir chegar até aqui, aprovar esse grande projeto, conseguir os recursos e pesquisadores. E agora o que eu busco é realmente colocar em prática tudo que a gente vem construindo, pesquisar, resolver problemas e ser, de fato, a cientista que eu sempre quis ser"
Juliana Yassitepe
Olivia Del-Puppo, Engenheira do Petróleo e mestranda no Planejamento de Sistemas Energéticos pela Unicamp, estuda, ao lado de outros três estudantes, formas de aperfeiçoar a realização de Leilões de Energia Elétrica, que determinam como e por qual empresa a energia elétrica será gerada e transportada.
O objetivo da pesquisa é que os leilões de geração e transmissão passem a ser juntos e a principal consequência disso será a mudança no valor da conta de luz do cidadão. “Para mim, o mais importante é fazer isso para melhorar de alguma forma a vida de alguém. Se eu estudo, pesquiso, busco melhorias a partir da ciência, não faz sentido ser só para mim”, afirma Olivia.
A engenheira elétrica Emille Patrício, de 26 anos, graduada pela Universidade Federal do Tocantins, também realiza uma pesquisa na Unicamp na área de energia elétrica. Emille estuda a Energia Solar Fotovoltaica na parte de meta materiais. “A minha pesquisa tem o objetivo de melhorar a rentabilidade da energia elétrica e eu acho que promove o efeito social de tornar mais acessível, barata a energia elétrica além de tornar mais independente das concessionárias de energia”, explica Emille.
Larissa Saldanha, engenheira química, de 24 anos, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, também mestranda da Unicamp, realiza um estudo de grande importância para a qualidade de vida da população mundial. A sua pesquisa de Mestrado é voltada para a remoção de compostos orgânicos voláteis do ar atmosférico através de fotocatálise heterogênia em um reator que atua com dióxido de titânio e radiação UV.
“Eu decidi pesquisar nessa área porque hoje em dia um dos maiores impactos que a gente tem na qualidade do ar que respiramos se devem a esses compostos fotoquimicamente ativos. Eles não são só nocivos à saúde humana, como também reagem com os compostos químicos da atmosfera e acabam degradando a camada de ozônio, além de serem extremamente poluentes”, esclarece a estudante.
Elisa Guida, graduada em Engenharia Ambiental e Mestre em Planejamento de Sistemas Energéticos, estudou benefícios ambientais que são vinculados a fontes de energia renováveis que podem gerar valores monetários, como créditos de carbono, por exemplo. “É um avanço nas pesquisas dos preceitos da economia ambiental de acompanhamento do novo acordo climático que existe (Acordo de Paris) e a averiguação do seu funcionamento, pensando no futuro”, informou Elisa.

"Eu vejo a Ciência como um instrumento de estudo para o desenvolvimento e isso me mantém sempre motivada a pesquisar”
"O que me move a fazer ciência, apesar de ser difícil e pouco remunerado, é saber que cada vez mais a energia elétrica vai tornar mais acessível"

"Muitas vezes vi o machismo no nosso trabalho nas indústrias. Em processos seletivos sempre preferem homens para liderarem plantas de produção e projetos"

Débora Magalhães relembra o episódio da demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), após questionar, com dados, afirmações feitas pelo presidente da república. De acordo com a pesquisadora, ser cientista atualmente no país é algo delicado. “Considero que ser cientista no Brasil hoje é um protesto. A ciência hoje é meio que demonizada politicamente. E no momento que se questionam os dados de um satélite do Inpe, um órgão internacionalmente reconhecido, por exemplo, é um questionamento à ciência brasileira diretamente”, desabafa.
Mas a engenheira física também exalta a importância da ciência, ao dizer o que significa para ela. "Eu não conseguiria nem me motivar a levantar da cama de manhã se não acreditasse no que faço. Ver as aplicações da ciência acho que é o mais incrível. O foco da ciência é ajudar as pessoas, é melhorar o mundo, as condições de vida, o meio ambiente. Todo esse impacto é o que eu acho que me motiva a ser cientista."
Germana Barata chama atenção para o fato de que a ciência não é neutra dentro de si mesma, tem interesses econômicos, políticos,de organizações, corporações, e é preciso ter um olhar crítico sobre ela. A jornalista afirma que hoje a ciência no Brasil está com as estruturas balançadas devido ao quadro de crescente “negacionismo”, mas que no fim das contas a pesquisa e os fatos científicos sempre vão prevalecer.
O momento que estamos vivendo hoje é um completo negacionismo da ciência, é dizer que ela só é ruim e não tem feito nada pelo bem da sociedade. Isso justamente porque tem uma conexão política e econômica. Estamos sofrendo um ataque para desacreditarmos no que a ciência faz, para que ela não interfira nesses interesses políticos e econômicos.
Germana Barata
Quem somos
Este espaço foi idealizado por uma equipe de formandas da Faculdade de Jornalismo da PUC-Campinas, sob orientação do Prof. Marcel Cheida.
O projeto retrata a importância da ciência para a sociedade, mas principalmente a evolução da participação das mulheres e suas contribuições. Pretendeu-se, por meio desta abordagem, documentar projetos atuais de relevância no meio científico com participação feminina. Desejamos que essas histórias possam incentivar mais jovens a se tornarem a futura geração de cientistas.
Sobre o projeto

Escorpiana, intensa, sincera e empática. Com personalidade forte e mente contestadora. É extremamente ligada à causas sociais. Faz jornalismo por amar conhecer pessoas e suas histórias. Quer viajar o mundo e experienciar novas culturas. Tem o objetivo de dar voz a quem foi calado.

"Escrever é palavrizar a poesia do mundo", o neologismo da frase surgiu depois de dois anos na faculdade. Mas a criatividade para novas palavras a acompanha desde a infância, quando descobriu sentir paixão por muitas coisas e que a poesia estava tanto fora quanto dentro dela.

Desde pequena, Laís já era comunicativa e estava sempre puxando assunto por aí. Ela cresceu e se apaixonou pela escrita e a fotografia que a levaram para a graduação em jornalismo. Ama viagens repentinas, é metida a gastrônoma e escritora. Quer viajar o mundo e contar as histórias das pessoas que encontrar pelo caminho.
Laís Grego
Raissa Schreiter
Eduarda Araújo
Créditos
Fotografia
Eduarda Araujo
Laís Grego
Arquivo pessoal das fontes Elisa Guida e Emille Patrício
Vídeo
Edição de Imagem
Jeferson Manhani
Thiago Machado

Texto
Eduarda Araujo
Raissa Schreiter
Alex Barbosa
Henrique Rogê
João Queiroz
Junior Fiuza
Rafael Turchetti
CNPEM (somente imagens de cobertura)
Web Design
Laís Grego
Design Logomarca
Manami Yoshida